Elegia a alergia
Bernardo Santos
Respiro oxigênio contaminado,
poeiras irritantes entram pelas fossas nasais:
Espirros
coriza
anti-histamínico
sonolência.
Cochilo cambaleante
uma certa preguiça
irrito-me.
Atrito de papel
lenço higiênico
coceira nos olhos
narinas entupidas
desalento
desoriento.
Limpo o nariz
estremeço, esquento
irrito-me.
Outro lenço, novo atrito
coriza, tédio.
Entristeço
perco o apetite
emagreço.
Não mereço ou mereço?
Alergia danada:
Do pó
do perfume
dos produtos químicos
do outono
do inverno
da primavera
do verão
do tempo.
Meu nariz pinga como torneira quebrada;
gotas umedecem a folha de papel
borrando as letras
e manchando o poema.
Outro espirro
coriza.
Limpo de novo o nariz
irrito-me.
Não consigo pensar, criar...
Parece uma praga magia esta alergia
que não me deixa acabar o verso.