Um ato de comunicação

 

Bernardo Santos


 

                        para os poetas e escritores

 

 

 

Pero Vaz caminha com sua carta

e reza à Cristo crucificado

estando o poeta na última hora de sua vida.

Sêmen est verbum dei.

Loquatur sermenem meun vere.

Salve Padre Vieira!

Que seja mais simples,

menos rebuscada e mais espontânea.

Aproveite-se o tempo, antes que faça

o estrago de roubar ao corpo a força,

e ao semblante a graça!

Nossa essência reside na liberdade

criadora e individual:

Intuições

sonhos

sentimentos

emoções

fantasias... Eu.

O coração como centro do universo;

o triunfo do sentimento sobre a razão.

Tupã, oh deus grande!

Não te ria de mim, meu anjo lindo,

por ti – as noites eu velei chorando

por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!

Levantai-vos, heróis do novo mundo...

O Ermitão da Glória

em Sonhos d’ouro com Iracema

para que mostrem a sua Inocência.                                                                     

 

Evolução positivista determinada

a realidade é necessária,

assim como a ciência

da sociedade e do homem.

O Cortiço, que A mão e a luva amassarão.

Estão abandonadas as técnicas românticas:

Hoje, seguem de novo na partida.

Nem o pranto os olhos umedecem

nem comove a dor da despedida.

Cores, sons, perfumes, quero mais...

Quero o símbolo entre o homem e o mundo,

sonho profundo, o sonho doloroso,

doloroso e profundo sentimento

aos leves fluidos do luar nevoento

sobre as estrelas rútilas e frias.

Os olhos observam os problemas brasileiros:

Os sertões

Cidades mortas

até mesmo O triste fim de Policarpo Quaresma

e, a um poeta original

ser miserável dentre os miseráveis.

A Semana de Arte Moderna

ilumina novos movimentos,

Macunaíma se machuca,

O Primeiro caderno

do aluno de poesia Oswaldo de Andrade

cai no chão e suja.

Vou-me embora pra Pasárgada;

antes, porém, passarei no Brás, Bexiga e Barra Funda.

Pedirei a São Bernardo proteção

e em Fogo morto seguirei                                                                                     

às Terras do sem fim

a procura de tal Continente.

Não serei o poeta de um mundo caduco

também não cantarei o mundo futuro.

O tempo é a minha matéria,

o tempo presente

os homens presentes,

a vida presente

num Romanceiro da Inconfidência.

Trago a doença dos que aceitam melancolicamente

e posso dizer que o grande afeto que te deixo

não traz o exaspero das lágrimas

nem a fascinação das promessas

nem as misteriosas palavras dos véus da alma...

São tendências que vem depois,

estas histórias na minha estória.

Ai de ti, Copacabana, te cuide!

A nova geração ataca.

Agora que é abril, e o mar se ausenta

secando-se em si mesmo como um porto;

aceita um conselho:

Beba Coca-cola

e passo a ser o Severino

que em vossa presença emigra.

Farei teatro por todo o Brasil.

Serei O pagador de promessas

bem como Jesus homem

que jamais se extinguirá!

Então, poderemos ir bem longe

até que a imaginação nos permita.

Share by: