Saudade de São Luiz
Bernardo Santos
Ah, que saudade!
Das noites frias de inverno do Vale do Paraíba,
em que ia na volta e voltava na ida.
Dos urubus a voarem sobre as telhas paulistas,
da pequena grande casa onde escrevia poemas
que não os contei ainda.
Do bate-papo aberto, do violão,
do Festival da Manifestação.
Do Divino, do menino, do Rosário e da procissão:
Saudade imensa da população.
Quem sou? Senão a saudade de um tempo
procurando resgatar o passado presente!
Sinto então, que é preciso revê-la
como se nada tivesse acontecido;
sem o castigo da chuva
e o transbordamento do Rio Paraitinga
que inundou a cidade derrubando casas.
A Igreja Matriz São Luiz de Tolosa
e a Capela das Mercês também desabaram,
rompendo anos de história.
O Mercado Municipal coberto pelas águas
teve a fachada suja de lama,
manchando a data de sua fundação.
O Centro Cultural Garcia-Guillén
perdeu seu acervo devido obras afogadas.
Casarões de taipa da praça Oswaldo Cruz ruíram,
provocando tristezas e lágrimas.
Ruas aquáticas, desconfigurada geografia urbana
e sentimentos molhados do povo em pranto.
Ah, São Luiz! Há quanto tempo!
Triste ver-te em tratamento intensivo,
doce alegria em livrar-te dos escombros,
digna reconstrução de seus alicerces.
Grande virtude a dos luizenses:
Braços fortes, confiança e bons pensamentos.
Coragem e muita vontade em levantar-te de novo.
Tijolo a tijolo vai subindo e renascendo...
São Luiz promessa, de ontem, de hoje e de agora;
São Luiz do Paraitinga, patrimônio de sempre.