Sou um, mas ao mesmo tempo sou vário. Sou uma pessoa e vivo
milhões de personagens. Há muito para ser revelado em cada um de nós, e muito
que não deve ser revelado.
Fujo de mim, da própria
existência e às vezes chego até pensar que não existo; sou um jogador, não de
futebol, mas de palavras. Creio eu assim como a maioria dos escritores também o
faz, e sei que é duro você ter que me chamar à atenção, mas é o seu dever.
Faço coisas sem pensar, penso coisas sem querer e quando penso
em fazer, não faço. Vivo a vida como vejo, mas ultimamente não ando vendo nada.
Não faço críticas para não ser criticado, pois aquele que critica os outros
para se defender pertence a mais baixa categoria de gente, e é lógico que eu
não pertenço.
De tudo, um pouco a gente vê. E para que não sejamos tão
distantes da vida, o melhor é contar até dez e mandar a tristeza embora para
sete metros longe de tudo. Você dirá: Só Sete? Sim, só. Sete significa
infinidade e então o que conclui? Não poderia pedir para que fizesse isto
também, pois sei que em você não existe este tipo de sentimento; e isto talvez
seja muito bom ou muito ruim, não sei.
Nenhum de nós faz tudo o que precisa fazer com a perfeição com
que deveria. Poderia falar as línguas dos homens, e até a dos anjos; mas se não
tivesse amor, as minhas palavras seriam como o barulho do gongo ou da badalada
do sino. O amor nunca desanima e suporta tudo com fé, esperança e paciência.
Vejo que neste ponto somos iguais, mas existe em mim um pingo de inveja que é
ver sempre em seu rosto o sorriso contagiante – e que belas gargalhadas – você
não acha?
Gostaria de ser assim, mas cada pessoa tem seu jeito de ser. E
eu tenho o meu. Sou assim: meio doido, fanático em escrever, gosto de ouvir
música alta, ir sempre que possível para o meio da mata e curtir as cidades
históricas; até mesmo conto ou tento fazer a sua historia. Enfim sou uma peça
que faz mover as teclas da máquina de escrever.
Se o homem foi feito para uma comunhão no amor, quem procura
outra saída erra o caminho, e pelo que me disse um dia, que vivo de ilusões só
posso lhe dizer que minha consciência diz para fazer da vida um sonho, da
ilusão uma realidade, do pai um amigo e do amigo um irmão. E assim, “meu amigo
de fé, irmão e camarada”, não se preocupe com o meio em que vivo, pois vivo
para transformar todos estes mandamentos em minha própria vida, o meu amanhã; o
futuro de meu ser.
Diante de toda minha teimosia, peço-lhe desculpas pelas falhas
e agradeço por toda a sua preocupação comigo. Obrigado Pai!
(Este texto foi escrito
em fevereiro/82 como parte integrante do livro: O Míssil Humano).