O “Dia Nacional da Ciência e Cultura” foi instituído pela Lei
nº 5.579de 15 de maio de 1970, como
homenagem à data natalícia de Rui Barbosa, nascido a 5 de novembro de 1849.
A cultura pode ser entendida de várias
formas. Está associada à educação, às manifestações artísticas como
teatro, música, pintura, escultura; os meios de comunicação de massa, tais como
o rádio, o cinema e a televisão; às festas e cerimônias tradicionais e
religiosas; às lendas e crenças de um povo ou a seu modo de vestir, alimentar e
falar.Cultura é a capacidade de dar
significado aos objetos; são todas as maneiras de existência de vida humana,
resultante do processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo
capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como
resultado da ação exercida, converte em ideias as imagens e lembranças; a
princípio coladas às realidades sensíveis e depois generalizadas, desse contato
inventivo com o mundo natural.
A cultura é, portanto, um processo de
autoliberação progressiva do homem, o que o caracteriza como um ser de mutação,
um ser de projeto que se faz à medida que transcende a sua própria experiência.
Gusdirf, filósofo contemporâneo disse que
“o homem não é o que é, mas é o que não é”; ou seja, o homem não se define por
um modelo que o antecede, por uma essência que o caracteriza, nem é apenas o
que as circunstâncias fizeram dele. Ele se define pelo lançar-se no futuro,
antecipando, através de um projeto, a sua ação consciente sobre o mundo.
Já a criatividade é uma capacidade humana
que não fica confinada apenas ao território das artes, mas que também é
necessária à ciência e à vida em geral, pois a ciência não poderia progredir se
alguns espíritos mais criativos não tivessem percebido relações entre fatos
aparentemente desconexos através de hipóteses e teorias explicativas dos
fenômenos. A Ciência é a melhor maneira de definir a realidade mostrando como
as coisas funcionam através de tentativas de erros e acertos.
Sendo
assim, cultura, ciência e criatividade andam juntas; praticamente de mãos
dadas.
Carnaval, a alegria do povo nas ruas
Bernardo Santos
O carnaval tem uma origem que remonta a séculos. E
mesmo o carnaval brasileiro ainda traz alguns antigos hábitos do carnaval da
Idade Média, e até mesmo de costumes romanos. Prova disso são as fantasias
luxuosas usadas pelas comunidades nestes dias, simbolizando a inversão social –
conhecida pelos romanos como “saturnais” – ou a inversão de sexo (na fantasia).
Sob este ângulo, o carnaval é a volta às origens. O pobre vestido de
príncipe talvez não saiba, mas simboliza uma antiga aspiração de tornar-se
igual ao senhor das terras, pelo menos por algumas horas. Talvez também poucos
saibam, mas o travestido tentando apropriação das forças do sexo oposto, também
já era comum nesta época.
No Brasil, o carnaval chegou por duas rotas. A primeira
partindo da África, de onde os negros, junto com seus cantos e suas danças,
contrabandearam, inconscientemente, a semente do samba. A outra, europeia,
trouxe de Portugal, O Entrudo que consistia em jogar de tudo em todos – e a
tradição do Zé Pereira – costume português de malhar bumbos nas ruas cantando
versos – que, segundo alguns estudiosos, nos deixou de herança o tamborim, a
cuíca, o reco-reco e o pandeiro. A união desses costumes, além da mulata, nos
deu o carnaval.
As músicas, inicialmente denominadas de marchas-rancho e
batucadas, fizeram surgir mais tarde o gênero mais popular da música
brasileira: o samba.
A palavra samba, segundo alguns, foi formada por dois termos
africanos – “Sam” e “Ba” – que significam “pague” e “receba”. A hipótese mais
aceita hoje, considera-a uma corruptela de “samba”, usada pelos africanos para
designar a umbigada que os dançarinos de batuque davam para chamar um
substituto, depois de dançar algum tempo no meio da roda, Mas,
a criação do samba soou rude ao ouvido das camadas mais altas da sociedade;
ainda muito ligadas à tradição melódica europeia das valsas, polcas, mazurcas e
aos novos ritmos de dança norte-americanos. Assim, se explica o fato de que,
quase contemporâneo ao aparecimento do samba, tenha surgido um segundo gênero
de musica carnavalesca: a marcha, dirigida especialmente às orquestras de
bailes de salão.
Mas, os netos de baianos do bairro da Saúde no Rio de
Janeiro subiram os morros, enxotados pela valorização do centro urbano e
continuaram a cultivar o samba batucado, desde então chamado de “samba de
morro”. Os pernambucanos também espalharam pelos carnavais do país o frevo. Ao
contrário do que muitos pensam, o frevo não é folclore e sim um gênero de
música popular especial, que precisam de instrumentos caros, como trombone,
tuba, saxofone - o povo não tem dinheiro para comprar. Surgem os blocos
carnavalescos, muito criativos e divertidos. Alguns desses blocos começaram a
se transformar em escolas de samba.
Um ritmo musical ousado, aliado a uma dança sedutora
despontou-se na Bahia; originando o Axé, que deixou palcos fixos e locais
imóveis, para levar a alegria através dos trios elétricos, dos quais só
não vai atrás quem já morreu!
O samba nasceu pela (e para) alegria e descontração do povo.
Mas em pouco tempo ele passou a ser produto para consumo rápido. Hoje já não se
faz uma música pra ser cantada em muitos carnavais como “jardineira” ou “Me dá
um dinheiro aí”. Se antes o refrão andava na boca do povo, agora ele é decorado
através do rádio e da televisão, depois se colhe o sucesso, que normalmente não
passa de um carnaval. E foi assim, que, juntando o batuque dos
negros ao entrudo e à tradição do Zé Pereira, formaram-se os cordões, que
passaram a blocos e escolas de samba e ao “maior show do mundo”, o carnaval dos
brasileiros”. Um colorido especial que se une ao verde, amarelo, azul e branco.
E desde que o samba é samba é assim...
Composição Noturna
Bernardo
Santos
Havia
pouca intensidade de luz. Meus olhos dilatavam as pupilas para poder enxergar
melhor. Ver era preciso. Num canto da sala estava a refletir, enquanto no sofá
ela dormia tal como um anjo, envolto e perdido em vestes
brancas, ou seriam azuis? Naquele momento, minha vida se resumia num e
numa caneta para fazer o intercambio das ideias e
sentimentos através das letras. Ao mesmo tempo em que pensava,
azia da caneta um instrumento musical e batucava
lentamente sobre o papel um samba-canção de Noel
Rosa. Ela continua a dormir – roncos se misturam ao meu samba – imersa
em sonhos, longe de tudo, de todos e perto de mim.
O cheiro dos
chips me dava água na boca e não resisti a tentação de comê-los. Ao
mastigar, o crec-crec interrompeu meu samba confundindo
o ritmo. Um barulho repentino foi lentamente tomando conta de meus
ouvidos; vozes desconhecidas que vinham da televisão ligada.
Uma claridade me ofuscou a vista, mas mesmo com os
olhos embaçados pude ver que não havia ninguém no sofá.
Caneta e papel encontravam-se espalhados sobre a mesa; com eles meus
braços, minha cabeça e um pouco de mim.
Acordar de repente é como uma caixinha de surpresa. Percebi
que sonhara. Recompus as energias e compus o samba do sonolento de cuja letra
iniciava-se assim:
Quem era ela que dormia no sofá?/
Não sei dizer / Não sei dizer...
Cultura
Educacional
Bernardo Santos
Vivemos
cercados por vários grupos de pessoas: a família, os parentes, os amigos, os
vizinhos, os colegas de trabalho entre outros. É preciso saber viver e conviver
com eles.
Somos todos sementes em multiplicação e geramos frutos para
serem enviados a diversos locais. Somos frutos graúdos, miúdos, verdes,
maduros, bons, ruins. Portanto somos de classes diferentes, mas pertencemos
todos a uma mesma espécie; mas somos selecionados. A importância de um fruto
para uns, pode não ser a mesma para outros.
Assumimos nosso
dia a dia conforme ordena nossas necessidades ou de
maneira indireta conforme manda o dinheiro. Há
coisas com muito valor porque servem para a gente
viver e há coisas que valem muito mais porque servem para
a gente viver melhor. Portanto, cada coisa possui o seu valor
e as pessoas precisam também de valor para comprar valor: A
casa, comida, roupas, transporte, estudo, lazer, etc.
O fruto bom é
rico em vitamina. O fruto ruim é pobre. O fruto estragado é perigoso e pode
levar à morte, devido à contaminação por bactérias. E assim caminha a
humanidade comendo cada qual o fruto possível.
A certeza
moral, a que se baseia em grandes probabilidades e não em provas absolutas,
reflete os bons costumes no livro da vida. Os conhecimentos gerais adquiridos
pelas pessoas com objetivo de desenvolver a capacidade de cada um são recebidos
em estabelecimentos de ensino especialmente organizados para este fim, ou
através de experiências cotidiana e ambos se constituem em instrumentos
culturais capazes de impulsionar o homem às transformações materiais e
espirituais exigidas pela dinâmica da sociedade; aumentando assim o poder sobre
a natureza, e ao mesmo tempo buscando uma conformação de individualidade aos
objetivos de progresso.
Ao depararmos com a convivência onde reina o reino da indiferença, da inveja, da incapacidade, da loucura; pouco ou quase nada se pode esperar desse trauma denominado sociedade, cujos padrões nos guiam para o consumo de nós mesmos e o aniquilamento de nossa alma. Aqui tomo a liberdade de atravessar os murões das escolas, como um invasor ou mesmo espião, para dizer que nela recebemos orientações para que procuremos resolver os problemas que nos rodeiam e ao contrário, aprendemos é defender um patrimônio que se quer nos pertence.
A enigma forma de ensino está totalmente perdida no tempo e
espaço, ou seja, não atende as necessidades básicas do estudante, isto talvez
porque os nossos pródigos heróis políticos não querem que as crianças de hoje
sejam os homens de amanhã.
É fundamental que o futuro de um país se faça com fortes
estruturas e principalmente com homens capacitados profissionalmente,
moralmente e psicologicamente; aptos a verdadeira realização humana. Se esses
homens não são preparados para tal realização, nada se conseguirá, nada poderá
ser obtido se a falta de incentivo e de apoio não estiver dentro desta
doutrina. Não haverá vitória.
Se os fortes e poderosos se omitem em
fortalecer os fracos atrás de uma máscara, ao invés de darem as armas; opõem-se
como os maiores adversários; distanciam cada vez mais para fugir do compromisso
com a responsabilidade; como quer o maior preparo da terra para que seja fértil
dentro de uma sociedade que venha a dar bons frutos?
Quebrar barreiras
impostas a esta repressão necessita de solidariedade entre o povo que se deixa
levar, ou em outras palavras, que se oferece ao agrado de ser controlado.
Eliminando subsídios e incentivos que muitas vezes saem do bolso de quem tem
menos para o daqueles mais privilegiados, na situação atual, não resta, outra
opção, senão a de bancar a bronca.
Estamos todos numa mesa redonda sem cadeiras, aglomerados pelo
poder que nos impede de seguir em frente. O mundo parece ter ficado pequeno sem
restar pedaços para serem dominados e muito menos campo para criatividade, pois
já não há resposta para uma simples pergunta feita a uma criança: O que você
vai ser quando crescer?
A vida continua. Com riso e choro, alegria e tristeza, medo do
abismo, preocupação. A educação ainda é o principal instrumento de que o homem
se faz necessário, mas ela esta desprotegida e com defeitos mecânicos incapazes
de serem consertados. Não tem mais como colher bons frutos.
Coisas Minhas
Bernardo Santos
Acorda o mundo e então
percebo que me encontro em outra vida, mas não muito distante. Muita gente
pensa que a pessoa sai da Terra e esquece tudo, – ou no popular: “Vive no mundo
da Lua” – mas não é bem assim. Sei que às vezes chego a ser bruto e malcriado e
então noto em seu rosto cansado uma certa tristeza. Não sou um lavrador que
quer colher o mal e não admito que a minha semente consinta que a inveja, o
rancor e a maledicência dominem seu coração, porque não haveria de sofrer do
inferno da desconfiança; pois se persiste em viver do ontem, não é necessário
temer o amanhã, pode desfrutá-lo como qualquer pessoa. Se não te dispõe a
perdoar as faltas alheias, creio que também não poderá receber o direito que
espera de aguardar o perdão das suas.
Depois de muito analisar; cheguei à conclusão que realmente
sou teimoso e esta teimosia tem um significado maior: Permite que meus
sofrimentos fiquem livres, sem grades e de portas abertas para que todos os
objetivos de minha vida sejam realizados sem interferências, sugestões e
críticas. Assim, não pense que estou recusando seus conselhos, mas é assim que
me sinto bem; pois vejo que neste raio de luz materna existe uma verdadeira
amizade, uma enorme preocupação com os meus ideais.
Quero lhe dizer que, enquanto explicares de modo bem conciso
que o sonho nada vale em face à realidade; sereno, ouvir-te-ei. Nos lábios, um
sorriso de quem compreende tudo, até mesmo a perversidade. Não hei de levantar
o mínimo protesto, não terei uma queixa, uma palavra, um gesto que traia o meu
sentir. Hei de te ouvir calado para não ofender e magoar-te.
Sou pior que uma criança; daquelas que se fala dez vezes para
não fazer isto ou aquilo. E assim serei até meus últimos dias. A realidade é
tal qual podemos retirá-la de nossos conceitos e costumes, que é à vontade de
crescer e viver cada momento, sentir e amar coisas tão belas.
Sou um maquiavélico, masoquista, que vive à procura de alguém
que tenha amor para dar, que procure a paz, alguém que almeje sempre mais, que
tenha um ideal e lute por ele, que tenha certeza das coisas.
Nossas brigas
e desentendimentos estão ligados a uma palavra: Amor. Ele vive entre nossos
corações e faz nos amarmos tanto um ao outro, que às vezes este amor chega a
ser exagerado, dando lugar ao ciúme que lhe domina, não deixando seu filho
desprender-se da barra da saia. Continuo na Terra e aqui permanecerei, mas
lembre-se que um dia as pregas da barra se soltarão e juntamente com elas
também cairei; pois não sou mais aquela criança necessitada de cuidados. O
tempo me fez homem para seguir à beira de uma estrada em busca de uma nova
jornada na vida; e este poder de pensar que sou somente seu, apenas a pureza e
a beleza entenderão.
(Este texto é parte
integrante do Livro: O míssil humano, inédito).